segunda-feira, 9 de maio de 2011

RESENHA


RESENHA
Dados da obra / artigo
Autor: Thomás Tadeu
Título: Documentos de Identidade
* O texto é o capítulo 7 do livro que trata do Currículo como construção social: A nova sociologia da educação – NSE.
1- IDEIAS PRINCIPAIS / ARGUMENTOS FUNDAMENTAIS
A crítica do currículo na Inglaterra dá-se a partir da Sociologia, cujo marco inicial foi o livro “Knowledge and control”, de Michael Young, o qual levou a crítica do currículo a ser conhecida por “A Nova Sociologia da Educação”- NSE. Enquanto nos Estados Unidos a crítica curricular tinha como referência as perspectivas tradicionais, na Inglaterra a referência era a “antiga sociologia” da educação, que se preocupava com o fracasso escolar das crianças e jovens da classe operária. Chamada de sociologia “aritmética” por se concentrar nas variáveis de entrada (classe social, situação familiar, renda) e saída (sucesso ou fracasso escolar).
 A NSE critica essa sociologia por esta não problematizar o que ocorria entre esses dois pontos e se preocupa com o processamento de pessoas e não do conhecimento, como a outra. A NSE também desafiou a forma racionalista do currículo defendida pelos autores P. H. Hirst e R.S. Peters, o qual era centrado no desenvolvimento do pensamento conceitual e abstrato. Para a NSE o currículo deveria centrar-se em formas de compreensão.
 A sociologia do conhecimento escolar, proposta pela NSE, de Young, coincidiria com a sociologia mais geral do conhecimento. Young critica a tendência de se tomar como naturais, as categorias curriculares, pedagógicas e avaliativas utilizadas pela teoria educacional e pelos educadores. A NSE não se preocupa em saber se o conhecimento é verdadeiro ou falso e sim o que conta como conhecimento, quais são as bases sociais daquele conhecimento. De forma mais geral, a NSE busca investigar as conexões entre os princípios de seleção, organização e distribuição do conhecimento escolar e os princípios de distribuição dos recursos econômicos e sociais, ou seja, as conexões entre currículo e poder, entre a organização e a distribuição de poder.

2- IDEIAS SECUNDÁRIAS
O autor analisa as ideias de Young, ao demonstrar em seu ensaio como desenvolver uma sociologia curricular inspirada nas concepções de Marx, Weber e Durkheim e embora ressalte as conexões entre os princípios de distribuição de poder  e as várias fases do processo de construção curricular, Young se concentra na organização curricular. Enquanto Young faz uma análise estrutural do currículo, Geoffrey Esland e Nell Keddie, citados pelo autor, adotam uma postura fenomenológica e ataca a visão objetivista do conhecimento, presente no currículo tradicional, a qual baseia a divisão do currículo em disciplinas e ignora a intencionalidade e a expressividade da ação  humana. Considera como dado um mundo que tem que ser continuamente interpretado. O conhecimento, segundo Esland, é construído intersubjetivamente na interação entre professor e aluno na sala de aula. A realidade é construída de significados intersubjetivos da interação social, por isso, qualquer mudança curricular objetiva deve ser analisada pelos envolvidos, ou seja, professores e alunos.
Embora Esland destaque a importância de se analisar as visões subjetivas tanto de professores quanto de alunos, neste ensaio ele se concentra no conhecimento dos professores e tenta compreender quais são as visões de mundo que os professores trazem para a sala de aula e aquelas que ali se desenvolvem.
O trabalho de Nell Kiddies é o único que tem uma base empírica e ele argumenta que o conhecimento prévio que os professores têm dos alunos, determina a forma como irão trata-los. A capacidade intelectual dos alunos, de acordo com a avaliação dos professores, acaba sendo de acordo com a tipificação que os professores fazem deles, de acordo com as classes sociais, teoria da “rotulação”.
Uma perspectiva curricular inspirada pelo programa da NSE buscaria construir um currículo que refletisse as tradições culturais também dos grupos subordinados e não só dos grupos dominantes e a epistemologia central do conhecimento, baseada na “construção social”. A influência da NSE diminui à partir da década de 80 e a sociologia do currículo cedeu lugar a perspectivas mais ecléticas que misturavam análises sociológicas com teorizações mais pedagógicas e aparece uma variedade de perspectivas analíticas e teóricas: feminismo, raça e etnia, pós-modernismo, estudos culturais, pós-estruturalismo. O contexto social de reforma educacional e de democratização da educação que inspiraram a NSE transforma-se com as políticas neoliberais de Ronald Reagan, nos Estados Unidos e de Margareth Tatcher na Inglaterra e até mesmo Michael Young, principal teórico da NSE, abandona suas pretensões sociológicas e adota uma postura burocrática e técnica.
Entretanto, a ideia inicial da NSE, de “construção social”, continua atual e importante e encontra continuidade, por exemplo, nas análises do currículo de hoje que são feitas com a inspiração nos Estudos Culturais e no Pós-estruturalismo.

3- APRECIAÇÃO CRÍTICA
O texto é suma importância para que possamos repensar o currículo existente hoje em nossas escolas, pois aborda um aspecto muito relevante sobre a construção do currículo que considera as tradições culturais tanto dos grupos subordinados quanto dos dominantes. Por outro lado, ainda podemos ver a cultura da “rotulação “ em escolas, e alunos sendo avaliados pela classe social a que pertencem.
A preocupação com a construção curricular não é novidade, pois vários estudiosos têm se dedicado ao tema com a intensão de encontrar soluções inovadoras que possam tratar da formação dos indivíduos como um todo, uma formação contextualizada, levando em consideração as muitas culturas existentes numa sala de aula, bem como as intersubjetidades ali existentes e que podem fazer toda a diferença.
O currículo deve ser repensado de forma responsável e consciente, visando a formação de sujeitos empreendedores e capazes de agir em benefício de si próprio e do outro, responsáveis pela preservação da vida como um todo.

8 comentários:

  1. Torço para que você faça resenha de todas as suas leituras, porque o resultado de suas sínteses são sempre muito adequadas. Parabéns! Que seja o primeiro de muitos outros textos resenhados por você.

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  2. Parabéns! Excelente a sua publicação. A partir desse resenha que pude entender o curriculo como construção social. Obrigado

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    1. Que bom que pude contribuir para o seu entendimento. Valeu, muito obrigada. Abraços.

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  3. ótima crítica!! Parabéns pelo esforço.

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    1. Obrigada. Este estudo foi muito importante para a minha caminhada durante o curso de mestrado.

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  4. Olá, boa noite. É sempre bom recebermos críticas construtivas, elogios e o que for que colabore para um determinado esforço, trabalho que tenhamos realizado. E, hoje eu vim lhe parabenizar e agradecer. Tenho um trabalho a ser apresentado sobre esse capítulo do livro, e confesso, encontrei dificuldade em compreender o que era ou não importante ser citado e explicado em sala. Você iluminou a apresentação, estou grata! Parabéns.

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