terça-feira, 17 de maio de 2011

RESUMO DE CURRÍCULO: DEBATES CONTEMPORÂNEOS - Cap. 6

RESUMO
CURRÍCULO: DEBATES CONTEMPORÂNEOS
Autora: LOPES, Alice Casemiro; MACEDO, Elizabeth, Ed. Cortez
Capítulo 6
PODER, DISCURSO E POLÍTICA CULTURAL: CONTRIBUIÇÕES DOS ESTADOS CULTURAIS AO CAMPO DO CURRÍCULO.
                  
No final do século XX, no ocidente, intensificaram-se as preocupações com as questões culturais. Sem dúvida, elas decorrem das transformações na ordem mundial, delineadas ao longo do século XX, mais acentuadamente após a 2ª Guerra Mundial. Estas mudanças decorrem das novas conquistas tecnológicas e dos emergentes arranjos políticos, econômicos, sociais e culturais, que se configuram nesse período de confrontos.
 Alguns críticos diziam que o mundo jamais seria o mesmo depois do holocausto e das bombas atômicas, eventos que marcaram pela violência e demonstração de intolerância humana.  A Guerra da Bósnia, do Afganistão, os conflitos entre israelenses e palestinos e o atentado contra as torres gêmeas em Nova Yorque, entre tantos outros mais recentes, são evidências de um mundo conflagrado pelos embates entre culturas. No início deste século, muitos analistas contemporâneos têm situado a origem desses acontecimentos em fenômenos de ordem cultural. O objetivo desse texto é expor um panorama de discussões sobre cultura,  e analisar as questões culturais que possam integrar as pautas dos currículos escolares e da formação de professores.
 Por volta de 1950 surgem fortes críticas à concepção de cultura, o que ocorre em decorrência da implicação das questões culturais no contexto político da época.
 Na 2ª metade do século XX, muitos autores começam a questionar as concepções “arnoldianas” de cultura, vigentes desde a metade do século XIX e dominantes por mais 100 anos. A noção de cultura defendida por Matheu Arnold identificada como “O melhor que se pensou e disse no mundo”, em oposição a tudo que era entendido como “progresso da civilização. Embutida nessa visão, ainda presente no século XX, está a suposição elitista que existiria um cultura verdadeira e uma” outra cultura”, a do povo. Na visão arnoldiana, a cultura  popular, era sinônimo de desordem social e política, e a cultura sem objetivos, seria o mesmo que harmonia e beleza e somente essa cultura poderia redimir o espírito e suprimir a  anarquia instaurada pela classe trabalhadora emergente.
 Correspondendo ao alerta feito por Arnold, surge na metade do século XX na Inglaterra, uma análise cultural para fazer frente ao suposto “declínio cultural”, ou cultura do “nivelamento por baixo”. Esse projeto, levado a efeito por Frank Raymond Leavis, pressupõe  a ideia de que a cultura sempre teria sido sustentada por uma minoria que mantinha vivos “os padrões da mais refinada existência”. A cultura de massa  e a civilização estariam ameaçando esses padrões e afastando as pessoas da literatura e das artes e transformando o mundo em massas de indivíduos incultos ou semicultos.
Esse entendimento era tão ameaçador que os seguidores de Leavis publicaram um manifesto propondo introduzir nos currículos escolares, treinamento de resistência à cultura de massa e para além dos muros da escola, conclamaram as minorias cultas para fazer frente à falência da verdadeira cultura. O que está em jogo é a noção da cultura como estado de espírito em oposição à cultura de civilização, localizada do lado da superficialidade.
 A crítica às concepções arnoldistas e levisistas de cultura, vai significar no meio de século XX uma revolução na teoria na teoria cultural, da qual estão engajados os intelectuais de uma família da classe operária, sendo os primeiros que tiveram acesso às instituições de elite da educação universitária britânica, em decorrência do processo de democratização.
 Um desses intelectuais, Raymond Wilhiams, argumenta contra a oposição entre cultura de massa e alta cultura e entre cultura operária e cultura burguesa. Ele se opõe a  certo etnocentrismo cultural dominante que descarta todas as expressões e realizações humanas, não submetidas  à expressão escrita  e a tradição letrada. Combater as posições elitistas significou ligar os Estudos Culturais ao domínio político.
De acordo com Stuart Hall (1997 – 1998), estudioso dos Estudos Culturais, os trabalhos no novo campo reconhecem a sociedade capitalista industrial, como lugar de divisões desiguais no que se refere à etnia, sexo, de classes e outras. A cultura é o Locus onde se estabelecem tais divisões. É onde se dá a luta pela significação, na qual os grupos subordinados tentam resistir a imposição dos grupos dominantes. Nesse sentido, os textos culturais são importantes por serem produtos sociais.
POLÍTICA, DISCURSO E POLÍTICA CULTURAL
Na segunda metade do século XX, os Estudos Culturais se caracterizam por construir um campo instável, de análises culturais e hoje continuam sendo transformados. Os debates de inspiração pós-moderna estariam substituindo as abordagens iniciais centradas nas questões de ideologia e hegemonia.
As preocupações iniciais da matriz britânica vão assumindo configurações locais ao viajarem pelo mundo, rompendo Fronteiras geográficas, culturais e disciplinares. Atualmente,  artigos e novos objetos de todas as áreas de produção de saberes vêm sendo alvo de discussão nos Estudos Culturais, com caráter contextualizável, onde diferentes interesses políticos entram em jogo.
 Analisando as publicações mais recentes, percebe-se que as abordagens pós-estruturalistas que se utilizam das concepções de poder e discurso de Michael Foucault e das tendências do pensamento pós-moderno, tem se concentrado nas questões da linguagem e da textualidade.  Considerar a análise dos textos culturais como forma de expor mecanismos de subordinação, de controle e de exclusão, que produzem efeitos cruéis nas arenas políticas do mundo social é, uma posição que já tem ressonância no cenário nacional e internacional. Quando indivíduos, ou grupos descrevem algo num discurso, temos a linguagem produzindo uma “realidade”. Assim quem narra coisas, pessoas, eventos ou processos, mostrando sua constituição, funcional e atributos, é quem estabelece o que tem ou não estatuto de realidade. O olhar de fotógrafo através de câmera, do cientista através microscópio, por exemplo, são guiados pelo desejo de conhecer, através do sentido. Os objetos não existem para nós sem antes passar pela significação, que é um processo social de conhecimento.
Toda teorização sobre escola, educação, ensino, pedagogia, aprendizagem, currículo, constitui um conjunto de discursos e de saberes que, ao explicar o que são estas coisas, as constitui. Segundo Foucault, as narrativas formam o aparato de conhecimentos produzidos pela modernidade, para tornarem os objetos sobre os quais falam administráveis. Conhecer o que deve ser governado é parte da estratégia que permite a regulação e o controle de indivíduos, grupos, processos e práticas. No campo educacional, não é só a psicologia que dispõe sobre seus objetos, mas também as demais disciplinas que integram os currículos escolares. O autor vem procurando mostrar em suas pesquisas que as formas como falamos sobre o mundo, por meio de linguagens e teorias, modelam nossa compreensão sobre porque  e como as coisas são, ou seja, nossas escolhas são linguisticamente determinadas  e passam  a ter importância quando começamos a pensar sobre a multiplicidade de linguagem e textos culturais, os quais nos assujeitam de uma forma  ou de outra.
Estudos recentes têm nos alertado para o que Henri Giroux e Shirley Steimberg chamaram de “Pedagogia cultural” que é a ideia de que a coordenação e a regulação das pessoas não se dão apenas nas escolas, mas  em todos os locais da cultura onde o poder se organiza e se exercita, como programas de TV, filmes, jornais, revistas, brinquedos, catálogos, propagandas, anúncios, livros, esportes, shopping center e outros. São espaços que educam e praticam pedagogias que moldam nossa conduta e formam nossa identidade, à medida que envolve nosso desejo, capturam nossa imaginação e vão construindo a nossa consciência.
 Isto significa que há pedagogias e currículos culturais em andamento dentro e fora das instituições educacionais, estruturados de acordo com o poder e política cultural predominantes no mundo contemporâneo.
Stuart Hall vem apontando para a importância de nos ocuparmos da “esfera cultural”, pois essas questões ocupam cada vez mais o centro dos debates sobre as políticas públicas. Segundo Stuart, no cerne da questão está a relação entre a cultura e o poder.  De acordo com as autoras do texto, os estudos culturais parecem ser bastante permeáveis às mudanças históricas, em diferentes momentos. As discussões iniciais, impulsionadas pela problemática das classes sociais, foram sendo mescladas ou mesmo substituídas por outras questões. Artefatos culturais como cinema, a TV e a telemática, instigaram o surgimento de novas formas de pesquisa e debate.
Estudos sobre feminismo, racismo e as polêmicas interdisciplinares sobre a construção social da sexualidade, adquiriram, visibilidade e ampliam o leque de possibilidades de problematização e hoje poderemos afirmar que o problema mundial das questões étnicas e racionais colocou a temática como um dos focos preferências dos Estudos Culturais. As guerras étnicas em andamento em quase todos os continentes estão dentro de nossas casas, com suas versões inventadas e reinventadas pelos textos jornalísticos, televisivos e telemáticos. Os conflitos étnicos estão também em nossos grupos de amigos e em nossas escolas. Discriminações, nas formas mais variadas e perversas, espalham-se pelas páginas de revistas e livros, pelas de novelas e pelos outdoors espalhados. Não há como ficar de fora disso. Seremos cúmplices se ficarmos omissos. Examinar e discutir esses textos culturais são uma forma de participar das lutas políticas por uma sociedade menos discriminadora e excludente.
 Os estudos culturais e suas análises são umas das chances de não nos conformarmos em ser meros expectadores de conflitos étnicos, raciais e religiosos, que assolam algumas regiões, povos e culturas do mundo, mas que também acontecem ao nosso lado, diante dos nossos olhos. Essas questões deveriam permear os currículos escolares em todos os graus de ensino e assim participarem efetivamente de uma educação mais consentânea, com problemas e dilemas do mundo, onde precisamos viver e conviver, para forjar a identidade e a diferença.     

2 comentários:

  1. Janet, seu texto-resumo está muito bem elaborado e pode servir de norte para quem quiser ler sobre o tema.Muito bom!

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  2. obrigada pelo post! por acaso vc tem este capitulo pra ceder?

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