segunda-feira, 9 de maio de 2011

Texto: CURRÍCULO COMO COLEÇÃO

CURRÍCULO COMO COLEÇÃO
Entende-se por currículo o projeto que determina os objetivos da educação escolar e propõe um plano de ação adequado para a consecução de tais objetivos. Supõe selecionar, de tudo aquilo que é possível ensinar, o que vai se ensinar num entorno educativo concreto. O currículo especifica o que, quando e como ensinar e o que, como e quando avaliar.
Basil Bernstein analisa o currículo a partir de duas distinções fundamentais: o currículo tipo coleção e o currículo tipo integrado.
Interessa-nos discorrer sobre o Currículo tipo Coleção. De acordo com Bernstein, nesse tipo de currículo, as áreas e os campos de conhecimento são organizados de forma isolada, ou seja, cada disciplina tem sua própria lógica e a classificação determina o que é legítimo ou ilegítimo incluir no currículo. Portanto, a classificação também é uma relação de poder. Os critérios de valorização dos conteúdos, ou seja, a valorização que se dá a um conteúdo mais do que a outro, está ligada a essa relação de poder. Os conteúdos são organizados (colecionados) de forma independente e ensinados de forma isolada, sem estabelecer um relacionamento entre eles, ou seja, não se fala em interdisciplinaridade.
Entretanto, existe um currículo oculto, que segundo Bernsteun, embora não faça parte do currículo escolar, encontra-se presente na escola através de aspectos pertencentes ao ambiente escolar e que influenciam na aprendizagem dos alunos. Na visão crítica, o currículo oculto forma atitudes, comportamentos, valores, orientações, etc. No meu entender, o trabalho de Nell Kiddies mostra esse currículo oculto, quando  argumenta, com base empírica, que o conhecimento prévio que os professores têm dos alunos, determina a forma como irão trata-los e a capacidade intelectual dos alunos, de acordo com a avaliação dos professores, acaba sendo de acordo com a tipificação que os professores fazem deles, de acordo com a teoria da “rotulação”.
A realidade mudou bastante nos últimos anos e com ela, a necessidade de se pensar o currículo escolar de forma a acompanhar tais mudanças. O currículo não pode mais ser visto como coleção, pois existe a necessidade da articulação entre as disciplinas e os três ciclos do ensino básico. O currículo nacional precisa estar assentado no desenvolvimento de um eixo comum, onde se articulam os saberes de referência com as competências de saída, se preocupando em garantir simultaneamente, a existência de referências nacionais exigidas com qualidade e uma gestão curricular flexível, adequada aos contextos específicos de cada escola. O currículo não pode mais ser fragmentado, dissociado da realidade, mas sim um comprometimento que prepare seus atores para enfrentar o processo de globalização.
Segundo SILVA (2002 p.58) citado por Pierre André Garcia Pires, em seu artigo: “Escola e sua contribuição na formação de sujeitos: Um olhar a partir da nova concepção de currículo”: “Atualmente, encontramos nos discursos veiculados pela mídia e pelas políticas governamentais um forte apelo à escolarização como saída para os graves problemas enfrentados no país. Embora não seja correto imaginar que a escolarização possa resolver todos os problemas, temos que concordar que seu papel vai muito além de apenas instruir as novas gerações.”
Para James A. Beane, a essência de uma escola democrática é a integração curricular, ou seja, embora o currículo seja organizado de acordo com a abordagem por disciplinas, visando preparar o aluno para a universidade, existem espaços de tempo que “sobram” na escola, chamados de tempos discricionários, porque alguns professores conseguem cumprir o currículo com sucesso, permitindo usar esse tempo com propósitos que transcendem o currículo acadêmico por disciplinas.
O currículo na contemporaneidade, deve ser visto como algo vivo capaz de propor mudanças significativas em todo o âmbito da instituição, passando a significar o conjunto de experiências a serem vividas pelo aluno, agora tratado aqui como sujeito e não mais como indivíduo, pois de acordo com SILVA, 1999, p. 150, citado por Pierre André Garcia Pires em seu artigo, citado acima, “Currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, currículo vitae: no currículo se forja a identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade”.
Fontes

Um comentário:

  1. Fez uma discussão bem interessante, trazendo outras vozes para pensar, com você, o currículo como coleção. Mas, observe que o conceito de currículo que abre seu texto, já é um conceito de currículo-coleção...Repense!

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