quarta-feira, 15 de junho de 2011

COMPLEXIDADE E CURRÍCULO


UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS EM CURRÍCULO
Professora Rita Stano

Aluna: Janet Carvalho do Nascimento Chaves Neiva
Matrícula: 22014
COMPLEXIDADE E CURRÍCULO
Os problemas importantes são sempre complexos e devem ser confrontados globalmente, segundo Edgar Morin. Sendo assim, não é mais possível manter o modelo de produção, organização, validação e transmissão do saber que formaram a base dos avanços científicos e tecnológicos nos últimos trezentos anos.
Entretanto, mudança de um paradigma sólido, aceito dentro dos padrões da ciência normal, não é um processo que se consolide com facilidade. Antes, é necessário que se instaure a crise do paradigma. A transição de um paradigma em crise para um, novo, do qual pode surgir uma nova tradição da ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo. (KUHN, 2009).
As regras do Paradigma da Simplificação de Morin não se restringem à ciência, mas organizam a visão de mundo e as sociedades desenvolvidas. A escola ainda assume as regras desse paradigma dividindo o currículo em disciplinas que não dialogam entre si. Os estudantes são induzidos desde cedo a escolher entre áreas vocacionais. Nas empresas, semelhante ao currículo, ocorre a divisão do trabalho e a especialização. Para Morin, a especialização traz progressos, mas conduz a uma hiperespecialização que impede as ciências de comunicarem entre si e os saberes produzidos de serem integrados na realidade. As ciências sociais procuram imitar as ciências naturais nas especializações, entretanto esquecem-se do mais importante: o ser humano.
A especialização no trabalho limita cada vez mais os indivíduos em áreas restritas de competências e induz à ignorância acerca de outras dimensões da vida individual e coletiva. O conhecimento e aprendizagem são atividades humanas. A escola reprodutiva considera o conhecimento como um processo linear em que o professor fala, o aluno escuta, toma nota e devolve na prova, no máximo ocorre o domínio reprodutivo de conteúdos. Mesmo com a contribuição de Piaget e de tantos outros, a escola continua sendo instrucionista ao extremo. (DEMO, 2002, p. 124). As relações de poder são claramente marcantes nas aulas expositivas, se estabelecendo de cima para baixo no contexto da definição weberiana de obediência. A expressão “aquisição de conhecimento” continua corriqueira no meio escolar, como se o conhecimento fosse mercadoria. Ao final do processo o estudante recebe o diploma como reconhecimento oficial de que o aluno assimilou a carga curricular prevista. Porém, o cidadão está longe de ser crítico e consciente, uma vez que não sabe pensar nem tampouco inovar seu conhecimento. O fenômeno do poder não é linear, mas o poderoso faz de tudo para reduzi-lo a linear porque pretende o atrelamento cego, ou seja, um conhecimento sem consciência de si mesmo, incapaz de gerar uma visão global de si mesmo.
Segundo Morin, a gravidade dessa “cegueira” é que constitui uma ameaça para a sobrevivência da humanidade e para a preservação dos equilíbrios naturais, pois a ciência e a tecnologia, embora produzam tantos benefícios, tornam-se também em agentes de perigo da eliminação global da humanidade, seja pelo uso de armas de destruição em massa, seja pela possível ruptura do ecossistema do planeta. Assim, as “cabeças feitas” segundo o paradigma da simplificação dificilmente se posicionarão a favor de alterar o estado das coisas, porque aqueles que assumem funções de responsabilidade, não têm a visão estratégica, ou capacidade de liderança para vencer as crises e superar as ameaças, visto que são produtos deste paradigma.
O desafio do paradigma da Complexidade é o de ser capaz de pensar o real como um todo e não o de reduzi-lo a elementos redutores. É preciso saber pensar o imprevisível, estar pronto para o inesperado, coisa que a especialização não permite. Trata-se de pensar no currículo de forma pluridimensional e transdisciplinar. Assim, Morin formula o conceito de dialógica e recursividade.
Pensar de forma dialógica é compreender que a realidade se modifica e que a ordem e a desordem se alternam e não pode ser pensados separados, mas sim como um par que na sua relação dialógica, produz modificações do real.
Quanto à recursividade, Morin diz que é a possibilidade da causa agir sobre o efeito e deste agir sobre a causa. As relações humanas são complexas, assim como as relações ecológicas. Portanto, a complexidade é dinâmica. Não pode ser complexo o que não for campo de forças contrárias, em que estabilidade é sempre rearranjo provisório.
A complexidade não é linear, entretanto, não cabe excluir o linear da realidade porque também lhe faz parte.
A complexidade é reconstrutiva, isto é, permanece a mesma mudando sempre. O antes não é igual ao depois.
Sabe-se que mudar paradigmas não é coisa corriqueira, portanto, as discussões sobre a complexidade estão longe de se tornarem maduras e estabelecidas. O conceito de complexidade precisa incluir processos ambíguos e ambivalentes, dotados de padronizações flexíveis capazes de apontar para dinâmicas despadronizantes que desbordem o sistema. Ao lado da ordem escondida, dinâmicas não lineares possuem intrinsecamente desordem caótica e nisto são criativas. (DEMO, 2002, p.185)
O critério de falsicabilidade de Popper implica a mesma tessitura, com o agravante de estar emaranhado em certo positivismo. (DEMO, 2002, p.186).
Como se sabe, o positivismo, criado por Comte, sugere a observação científica da realidade visando a ordem como base do progresso social. Assim, o currículo ainda impregnado de Simplificação e Positivismo, presente na escola e passando pela “crise”, segundo Thomas Kuhn, começa a discutir a interdependência dos sistemas culturais e das ideias e isto contribuirá para mudar nosso modo de pensar, dando-nos um instrumento a mais para fugir do abismo para o qual o planeta parece estar destinado.
Fonte: DEMO, Pedro, Complexidade e Aprendizagem: A Dinâmica não Linear do Conhecimento. Ed. Atlas S.A, 2002. São Paulo.

Entrevista com Edgar Morin: O desafio da Complexidade e da Transdisciplinaridade, disponível em:< http://angelaazevedomorais.blogspot.com/>. Acesso: 14/06/2011





Um comentário:

  1. Um bom material de resumo para iniciar a questão referente ao paradigma da complexidade e sua relação com o currículo.

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